segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

Caríssimos e Caríssimas,

Sou José Carlos, sacerdote religioso, com feitura na Sagrada Jurema, mas, apesar de ser juremeiro, meus rituais se voltam mais para a Quimbanda, o que não implica em desobrigação, de minha parte, do culto à Sagrada Jurema em sua totalidade. Bem, apesar do meu sexo biológico, masculino, que, certamente, não corresponde a minha sexualidade psicológica. Falo sexualidade, porque a identidade sexual não se restringe apenas às genitálias, órgãos sexuais, que, biologicamente, definem o homem e a mulher. A sexualidade é bem mais ampla, pois é permeada por fatores psicológicos, sociais, culturais e, atualmente, jurídicos, segundo o Código Civil de 2002 e os parágrafos e alíneas dos Direitos Difusos acrescentem-se também, os Direitos Humanos. Há todo um arcabouço jurídico que interagem na questão da definição da identidade sexual, em sua fase contemporânea. Dentro do universo religioso, sou conhecida por Mãe Sabrina esse pseudônimo corresponde a minha sexualidade psicológica, que não se trata de condicionamentos culturais ou sociais, mas de minha essência mesmo. Ser a Mãe Sabrina não retira de mim os axés que recebi do meu Pai de Santo, o bruxo Vamberto, e que transmito aos meus filhos. Ao contrário, todos que entram nos axés de minha casa encontram segurança, apoio, paz de espírito e muito AXÉ! Constrange-me o fato de alguns da religião, vale ressaltar de matriz africana, sentirem-se ofendidos por eu ter o direito de ser a Mãe Sabrina. Isso não deveria ocorrer, especificamente, quando falamos de uma religião arcaica que tem em suas raízes míticas e rituais a dualidade, seja entre o bem e o mal, seja entre o masculino e o feminino, que sustentam as narrativas míticas, em especial, as africanistas. Essas narrativas míticas com todas as dualidades que fazem parte de suas estruturas também estão presentes no Culto à Sagrada Jurema... Não pretendo dar um curso sobre os sistemas simbólicos que estruturam os mitos e rituais de nossa religião, mas reafirmar que tenho o direito de ser chamada de Mãe Sabrina independente de quaisquer opiniões alheias, que, com certeza, não me influencia em nada. Apenas, encoraja-me a aconselhar aos críticos que pesquisem mais, busquem mais conhecimento, enfim, que transcendam esse preconceito que, certamente, degrada a religião, porque fere a dignidade da pessoa humana. Com certeza, ferir e desumanizar não é a função de nenhuma religião, ao contrário, sua função é religar o humano ao sagrado, seja esse sagrado expressado em qualquer sistema simbólico de crenças. Portanto, sou a Mãe Sabrina e estou com as portas de minha casa abertas a todos, inclusive aos críticos, que receberão, não só axés, mas também preceitos éticos e morais de valoração do ser humano. E ser humano referente à identidade sexual é bem mais amplo do que a categoria de gênero que é uma construção cultural e social. Sou bastante humana para ensinar o que é ser humano.

Mãe Sabrina de Mestra Luziara

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